sábado, 20 de dezembro de 2008

O DIVÓRCIO DOS PAIS


As figuras parentais são fundamentais na forma como se vão desenvolver os principais processos psíquicos da criança. O núcleo emocional e afectivo de uma criança terá como base não só na relação que os pais estabelecem com esta, assim como a relação que o casal estabelece um com o outro.

As falhas de relação ou ausência de interacções protectoras e securizantes na fase de uma separação podem resultar em dificuldades que a criança terá no relacionamento com amigos, familiares ou professores, assim como com ela própria.

O divórcio dos pais, quando é mal integrado pela criança, pode trazer alterações e sequelas que comprometam todo o seu crescimento. Ainda que o divórcio seja somente entre os pais, a criança fica confusa quanto à forma como vai gerir o que dentro dela continua bem junto e unido (pai e mãe).

Poderá haver tentativas sucessivas de reaproximar os pais e negação quanto à realidade da separação. Ao contrário do luto, em que há uma perda definitiva de alguém amado, na separação a criança mantém a possibilidade de algo que possa ser reversível, alimentando a esperança e a ilusão. A perda pode não ser imediatamente sentida com a mesma intensidade do luto, mas mantém-se presente de uma forma intermitente enquanto a criança não aceitar o divórcio dos pais. Isto impede-a de tranquilamente dedicar-se aos seus pensamentos, fantasias e brincadeiras, para poder investir e dedicar grande parte do tempo a imaginar e tentar uma reaproximação entre os pais.

Ainda que o divórcio seja indubitavelmente a melhor opção que o casal defina, e se calcule que a criança viva num ambiente mais saudável sem as constantes brigas conjugais, na verdade nem sempre o divórcio garante à partida um clima de maior serenidade e estabilidade. Por vezes, o divórcio é uma continuidade ou mesmo o começar de conflitos persistentes em que a criança passará a ter o papel de elo intermediário entre os dois.

É frequente a alteração de comportamentos por parte da criança, numa fase de divórcio ou separação entre os pais (má disposição, choro fácil, menor rendimento escolar, desobediência, inquietação, entre outros).

Por estas e outras razões, um processo terapêutico com a criança paralelamente a um aconselhamento parental, poderá evitar a evolução de consequências problemáticas no seu desenvolvimento.
(texto de Ana Rita Dias)

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